“Festa Junina Macabra” é uma história assustadora sobre uma adolescente, que, durante um ensaio de quadrilha se deparou com uma plateia bastante peculiar. História de Mara Victoria Mandy.

Meu nome é Mara e, desde pequena eu tenho um dom “especial”, eu vejo espíritos e gente morta, deve ser de família, mas minha mãe não nasceu com esse dom, essa habilidade de ver pessoas mortas, na verdade, herdei da minha avó, essas aparições me assustaram no início, mas com o passar do tempo acabei me acostumando com a presença desses espíritos na minha vida. Minha vó dizia que devemos respeitar os mortos. Mas teve um dia em que realmente fiquei apavorada.

Foi no início do mês de Junho, eu já estava com 17 anos. No próximo fim de semana seria a apresentação da nossa quadrilha. Estávamos ensaiando desde o mês de Abril e todo mundo já sabia a coreografia da dança, mas queríamos ensaiar uma última vez antes da maratona de apresentações. O galpão onde ensaiávamos foi ocupado para os preparativos de uma festa, então estávamos sem local. Até que o coordenador da nossa quadrilha teve uma ideia maluca. Ele disse que poderíamos ensaiar uma última vez num cemitério que fica no bairro onde ele mora, ele disse que lá te muitas sepulturas, mas o corredor central do cemitério é bem espaçoso e amplo, dava para ensaiarmos lá.

Essa ideia não me agradava nem um pouco, mas eu acabei indo, já que a maioria concordou em ensaiar no cemitério, e seria de dia, então, achei que não deveria me preocupar.  Ele disse que o cemitério estava meio abandonado e que o vigia que rondava por ali era amigo dele, então não haveria problemas.

No dia seguinte, encontrei com minha amiga Pâmela que também fazia parte da quadrilha. Ela sabia o endereço do cemitério, combinamos de ir juntas. Quando chegamos, já havia alguns de nossos amigos lá, aguardando. Tive um pressentimento estranho quando avistei aquele lugar. O cemitério parecia um monte de ruínas, tomado pela vegetação e as tumbas quebradas. Parecia que não era frequentado há anos. Não demorou muito e todos já estavam lá.

O nosso coordenador de ensaio disse que era só para revermos os passos e depois poderíamos ir comer uma maniçoba (feijoada típica do Estado do Pará) na casa da mãe dele. Isso deixou todo mundo animado, então entramos, o portão da frente não estava trancado então foi só dar uns empurrões e ele abriu. O corredor principal do velho cemitério era realmente bastante espaçoso, mas quando nos organizamos para ensaiar, olhei para os dois lados, estávamos cercados pelas lápides, tumbas e vegetação.

Eu definitivamente não estava me sentindo bem, Pâmela segurou meu braço.

“Mara, você está gelada, está tudo bem?” – ela perguntou meio preocupada.

“É só uma sensação estranha, mas vai passar…” – eu disse para tranquiliza-la.

O coordenador ligou o som da caixinha e tocou aquela música alegre, tema da nossa quadrilha e começamos a dançar, seguindo os passos da coreografia. Eu estava toda feliz e sorridente dançando com meu par, que até esqueci aquela sensação ruim no início. E todos estavam dançando, animados; o som da música contagiante, os passos, os movimentos… De repente, tudo começou a rodar, eu olhei para cima e nuvens negras estavam cobrindo o céu, de repente, numa fração de segundos, o dia lindo se transformou em noite.

Eu parei bem no meio do ensaio, meu estômago estava revirando, senti uma vontade enorme de vomitar, percebi que todos continuavam dançando então tentei voltar para a coreografia mesmo não me sentindo bem, mas quando olhei para meu colegas, eu parei e minhas pernas começaram a tremer. Não eram eles! Eu estava cercada por pessoas mortas vestidas com roupas de quadrilha, seu rostos estavam pálidos, em decomposição, eram caveiras e cadáveres, e cheirando a carne morta.  Estavam dançando e cantando. Quando olhei para os lados, havia uma multidão assistindo, mas não eram pessoas, eram os cadáveres do cemitério, estavam assistindo, sentados em suas lápides, alguns saiam da vegetação para ver a dança.

Eu comecei a ficar tonta, tudo começou a girar, e aqueles cadáveres continuavam dançando ao meu redor, eles estavam por todo o lado, quando recebi um golpe violento em minhas costas que me fez cair de joelhos no chão, minha costa estava ardendo, como se um grande corte tivesse se aberto, quando olhei por cima dos ombros, eu vi quem havia me golpeado, era  o coordenador, ele estava segurando um chicote, e de repente ele se transfigurou, se tornando outra coisa, parecia um demônio em chamas, ele ergueu o chicote e me golpeou novamente.

“DANCE!” –  aquela voz estrondosa gritava dentro da minha cabeça.

Senti o sangue escorrer pelas minhas costas, quando recebi um terceiro golpe que me fez levantar e comecei a dançar, e a voz continuava na minha cabeça.

“DANCE, SUA VADIA!” – ele continuava gritando sem parar enquanto eu dançava naquela quadrilha de mortos.

Eles fizeram uma grande roda e me deixaram no meio dançando, e aquele demônio com chicote me rodeava enquanto eu balançava a saia e fazia os passos da quadrilha, parecia que eu estava dançando a horas, estava exausta e ele continuava gritando e balançando o chicote para me golpear.

Eu já não aquentava mais e acabei desabando no chão, suada e exausta de tanto dançar, ele estava de pé me olhando com aqueles olhos vermelhos e expelindo fogo das narinas.

Ele estava suspendendo chicote acima da cabeça para me golpear mais uma vez, quando minha vista escureceu.

Acordei em uma cama de hospital, minha amiga Pâmela estava chorando sentada perto de mim e ficou feliz em ver que finalmente acordei.

“Onde estou? O que aconteceu?” – perguntei ainda confusa.

“Mara, você está no hospital. Estávamos dançando quando, de repente, você saiu da formação e começou a dançar no meio das lápides, caiu de joelhos, depois você se deixou no mato e começou a ter convulsões. Ligamos para emergência, eles trouxeram você para cá já inconsciente.” – Pâmela estava tremendo enquanto segurava minha mão e me contava tudo.

“Cadê todo mundo?” – Eu perguntei sentindo um frio na boca do estômago.

“Eles foram para delegacia, prestar depoimento” – minha amiga continuava tremendo.

“Por que?” – Quando fiz essa pergunta, tentei levantar, mas senti uma forte dor em minhas costas.

Minha amiga, se aproximou e sussurrou em meu ouvido – “Eles foram levados para esclarecer os ferimentos em suas costas.”