“A Festa da Carne” é uma história assustadora sobre um baile de carnaval misterioso que acontece todos os anos no centro da cidade de Belém do Pará. Boatos dizem que várias pessoas desapareceram lá, e as que voltam, ficam diferentes. História de Robson Almeida.
Há muito tempo atrás, eu estava sentado no ponto de ônibus, esperando a chegada do transporte quando eu as vi, alegres, saltitantes e ansiosas, vestidas com roupas coloridas, já dava para imaginar para onde estavam indo. Ana, Vera e Isabely são amigas inseparáveis desde que as conheço. Elas estavam a caminho do centro da cidade, onde estavam acontecendo os bailes de carnaval.
As 3 garotas estavam vindo para o ponto de ônibus onde lá já estavam Daniel e Marcos, amigos que já as aguardavam. Eu também conhecia essa turma, e eles falaram comigo quando chegaram.
“Oi, Robson!” – As meninas passaram por mim, dizendo um “oi” juntas, como um coral alegre e sorridente. Eu correspondi sorrindo e acenando com a cabeça.
Daniel e Marcos estavam de carro, eles estacionaram o veículo próximo à parada de ônibus e ficaram esperando pelas garotas. Logo que se encontraram, entraram no carro.
“Robson! Estamos indo pro baile lá no centro da cidade, quer vir com a gente?” – Marcos gritou, me convidando para o evento e tocando a buzina do seu carro.
“Não, obrigado. Eu vou a outro lugar primeiro, depois eu encontro vocês por lá!” – Eu menti para o meu colega. Na verdade, eu também iria direto para lá, mas queria ir sozinho. Eu queria procurar uma coisa, mas não queria alguém perto de mim. Eu tinha minhas razões.
O motivo de ir só, foi porque eu ouvi boatos sobre os bailes de carnaval no centro da cidade, boatos curiosos e, ao mesmo tempo, assustadores.
Belém do Pará é uma cidade encantadora, cheia de beleza e também mistérios, as ruas do bairro da Cidade Velha, onde se encontram as casas mais antigas que também são o patrimônio histórico da cidade, escondem muitos segredos, alguns até obscuros.
Há rumores que, há muito tempo atrás, a partir de 1844, onde ocorreu o primeiro baile de máscaras em Belém que passou a ser realizado todos os anos, animado por ritmos musicais como Polca, Valsa, Quadrilhas, Lundus e Sensual Maxixe (tango brasileiro que tinha uma característica lúdica sensual). Alguns senhores e senhoras da alta sociedade, recorriam a forças ocultas para conseguir riqueza e prosperidade. Realizavam rituais profanos no subsolo de uma mansão na época do carnaval, durante as festividades, rituais que envolviam sacrifícios de animais, orações e práticas de sexo. Tais rituais que abriram portas para seres das trevas viverem entre nós, se alimentando da carne e da alma.
Voltando para os dias de hoje, eu estava no ônibus a caminho do centro. Sempre fui fascinado pelos mistérios do ocultismo e lendas. E os relatos sobre pessoas que desaparecem em meio aos bailes de carnaval me deixou curioso, daria uma boa história de terror para o meu blog. Mas eu queria ver isso de perto. E se a lenda for verdadeira? Talvez nem eu mesmo soubesse exatamente o que estava procurando. Eu estava indo para lá sim, mas não para beber e pular, mas sim para vigiar. Talvez, se procurasse nos lugares certos, eu acharia alguma coisa.
Chegando no centro, desci do ônibus que havia parado até uma certa rua e tive que seguir andando pelo resto do caminho, pois as ruas haviam sido fechadas para os blocos carnavalescos, alguns foliões caminhavam também em direção aos blocos, logo pude ouvir o som dos blocos seguindo os trios elétricos. Não demorou muito para avistar um, estava cheio de foliões, as bandas carnavalescas tocando marchinhas de carnaval, e as pessoas acompanhando e cantando, e bebendo.
Havia perto dali um vendedor ambulante onde comprei uma latinha de cerveja, só para não parecer “careta” na multidão, eu ainda estava focado em meu objetivo, descobrir a verdade. Ao chegar na praça central próximo a igreja de Nossa Senhora da Sé, eu me posicionei num local estratégico, fiquei de pé em cima de um banco de praça para ter uma visão mais panorâmica da multidão, com meu celular, tirei algumas fotos.
Continuei caminhando em meio a multidão quando começou a chuva de confetes, era confete pra todo lado, a chuva parecia interminável. Foi quando eu percebi.
Em meio a chuva de confete algo se mexeu, parecia que a chuva estava viva, ela mexeu de modo estranho! Pensei que era apenas efeito da cerveja, e toda a euforia deve ter feito com que eu visse coisas. Quando… Eu vi de novo!
Algo caminhava pela multidão, algo invisível. A chuva de confetes revelou um movimento estranho no meio das pessoas, parecia que os confetes estavam andando, mas na verdade eles pousaram em algo que seria impossível de ver a olho nu.
A chuva de confetes continuava enquanto eu caminhava em direção ao movimento estranho, foi passando pelas pessoas tentando andar depressa. Foi quando fiquei de frente com ele!

Era estranho! A forma lembrava uma pessoa, mas aquilo estava longe de ser humano, era como se ele fosse um morto-vivo, ou um demônio feito de confetes, mas na verdade, os confetes fizeram com que ele ficasse visível, ao menos para mim. E quando ele percebeu que eu o vi e o estava encarando ele abriu a boca revelando dentes pontiagudos, e o som que saiu dela era como o assobiar agudo do vendo na tempestade que me arrepiou até os ossos. Logo depois, ele me empurrou e eu caí em meio à multidão.
Me protegi e tentei me levantar logo, mas algumas pessoas me pisotearam e outras tropeçaram em mim, mas quando finalmente consegui me erguer, a coisa havia sumido.
Olhei para todos os lados, assustado, tentando absorver o que eu havia acabado de ver a alguns segundos atrás, lutando contra a insanidade. Subi em uma grande lixeira para ver a multidão, tentando localizar a criatura oculta. Mas eu a perdi de vista, então continuei acompanhando a multidão, desta vez, em estado de alerta.
A essa altura em não estava mais ligando para a animação e o som das bandas nos trios elétricos. Eu estava com a visão focada em localizar qualquer movimento incomum, olhando para todos os lados, com o punho fechado, pronto para golpear aquela coisa, se aparecer de novo.
O céu já estava escurecendo e uma chuva forte começou a cair. O medo começou a tomar conta de mim e eu comecei a andar na contramão da multidão. Enquanto os foliões brincavam na chuva seguindo o fluxo do bloco, eu estava decidido a voltar para casa e ficar trancado até o fim do feriado de carnaval. Eu olhava para trás o tempo todo, com a sensação de que estava sendo seguido.
Me esbarrei numa pessoa, eram eles, Marcos, Daniel, Ana, Vera e Isabely. Eles me envolveram num abraço em conjunto e começaram a pular.
“Voltem! Voltem! Vamos sair daqui!!!” – Eu gritava inutilmente. Eles não me escutavam com o barulho dos trios elétricos. Eu estava relutante, mas continuei acompanhando o bloco junto com eles, olhando para todos os lados.
O que foi??? Tá procurando alguém? – Marcos grita em meu ouvido, segurando o meu braço. Ele percebeu que havia algo errado. Então eu o segurei para que parássemos e o trio elétrico se afastasse um pouco, assim, poderíamos conversar.
“Tem alguma coisa estranha andando por aqui, vamos buscar os outros e ir embora!” – E alertei marcos que me olhava com uma cara de riso.
“Mano, não sei o que você bebeu, mas seja o que for, é melhor não beber mais!” – Marcos ri, parando num vendedor ambulante e comprando duas latinhas de cerveja. Ele me entrega uma.
Então, sem ter outra saída, brindei com meu amigo e começamos a beber, parados na rua. Marcos avistou Daniel, Ana, Vera e Isabely. Ele os viu entrando em uma casa de show onde estava acontecendo um baile de carnaval.
“Vamos terminar essas latinhas e entrar lá” – Marcos sorriu dando mais um gole. Enquanto bebíamos, eu fiquei refletindo.
“Talvez tenha sido apenas efeito da bebida e a agitação, já que bebi uma latinha logo que cheguei” – Eu pensava comigo mesmo, apesar de, ter achando estranho tomar só uma latinha e já ter ficado bêbado. Só que quando me virei para meu amigo, eu congelo!
Marcos está paralisando, a expressão em seu rosto era de medo, ele deixa cair a lata de cerveja que estava tomando. Ele abre a boca, como se estivesse engasgado. Eu o vi, era ele, aquela criatura invisível que estava banhada em confetes. O monstro deu uma gravata em Marcos! Ele me olhava por trás dos ombros do meu amigo, e estava caminhando para trás, ele o estava arrastando.
“NÃO VAI LEVAR ELE!” – Eu gritei, segurando meu amigo pelo braço, olhando nos olhos daquele ser oculto, que me encarava com aqueles olhos vazios. Ele abre a boca de onde saiu aquele som agudo do vento, que me empurra para trás, como se a chuva forte viesse contra o meu rosto.
Fecho os olhos sem soltar o braço do meu amigo, puxando-o para mim. Marcos desmaia e cai. Eu ainda consigo segura-lo. Logo em seguida, ele fica de pé e recobra os sentidos, assustado e confuso.
Olhando para os lados eu procuro a criatura invisível que sumiu novamente após soltar meu amigo.
“Acho que minha pressão caiu… Não estou bem, melhor ir pra casa.” – Marcos balança a cabeça, ainda sem entender o que aconteceu.
“Vou chamar os outros!” – depois de deixar meu amigo sentado na calçada, eu fui em direção a casa de shows que estava com as portas fechadas.
“Ninguém mais pode entrar! O lugar está lotado!” – Alertou o segurança que estava na porta.

“Sou vou buscar meus amigos que estão lá. Já estamos de saída…” – Eu discutia com o porteiro e dei uma leve espiada pela fresta da porta de madeira. E o que vi, me deixou aterrorizado. Era uma imagem confusa, todos estavam cantando e dançando, mas numa fração de segundos, eu os vi se “fundirem” em apenas um corpo. Era estranho! Todos que estavam lá dentro se juntaram e formaram uma enorme “massa” feita de carne! Não dava mais para identificar o que era aquilo. Da enorme massa, emergiam corpos e rostos que gritavam em agonia, como se estivessem mergulhados em uma sopa feita de carne humana.
De repente fui empurrado e caí na calçada.
“Cai fora daqui! Já disse que o lugar está lotado, vai beber em outro lugar!” – O segurança que me empurrou fecha a mão me ameaçando. Eu me levando também com as mãos fechadas e pronto para brigar.
“Fica frio amigo, já mandei uma mensagem pro celular do Daniel, dizendo que estamos indo embora. Ele tem grana, pode deixar as meninas de UBER”. – Daniel me segura pelo braço, evitando o confronto com o segurança.
“Tem razão, melhor a gente ir.” – Eu, ainda bravo, resolvi concordar com meu amigo e fomos caminhando para o carro que estava estacionado a dois quarteirões dali.
No caminho, eu contei a marcos tudo que viu e aconteceu, mas ele não acreditou na minha história como eu já sabia que aconteceria, apenas concluiu que havíamos bebido demais e que era melhor sairmos fora. Ele disse que ainda me daria uma carona pra casa. Entramos no carro e seguimos.
No dia seguinte, eu encontrei as meninas novamente na parada de ônibus, disse “oi”, mas elas apenas olharam e passaram por mim como se não me conhecessem. Achei aquilo estranho, porém não quis puxar conversa.
Liguei pro Marcos para saber se ele estava bem, e ele me disse uma coisa estranha. Ele disse que o Daniel não está falando com ele, como se não o conhecesse mais. Eu comentei também sobre as meninas.
“Será que eles ficaram com raiva porque fomos embora e os deixamos lá?” – Marcos perguntou para mim.
Eu segurava o celular enquanto olhava as meninas subindo no ônibus, me encarando com olhos vazios.
“Será que ainda são eles???” – Pergunto a mim mesmo enquanto vejo o ônibus se afastar.