“O Casarão Abandonado da Rua de Baixo” é uma história assustadora sobre o trágico destino de um garoto que resolve explorar uma mansão abandonada. História de Sílvia Restani.

Entre uma pedrada numa vidraça, uma bombinha “cabeção de nego” em quintal alheio, uma meia preta velha  amarrada a um fio de Nylon representando uma cobra, arrastada na esquina de uma ponta a outra da rua assustando aos desavisados e distraídos transeuntes.  Algumas brigas entre si e/ou com os garotos da rua de baixo, ia vivendo aquele grupinho de meninos ou eram “capetas”? Como a vizinhança os intitulava?

Eram aproximadamente uns 8 a 10 meninos, que nasceram e cresceram juntos naquela localidade. As idades variavam em poucos anos de diferença.

O mais velho era Diogo , moleque de seus 13 anos. Era o “líder” da turma.

O comandante, o arquiteto das inúmeras traquinagens já aprontadas e tinha também a especialidade de escapar das surras de sua mãe, enquanto os outros, entravam no sarrafo!

Diogo aprontava e sumia…

Voltando quando estava tudo mais calmo, ajudado por seu irmão mais novo, que aliás já havia apanhado…

Este não escapava das sovas da avó e da mãe deles.

A avó de Diogo gostava especialmente dele.

Era seu neto predileto, porém não podia deixar de “educá-lo” a sua moda.

Achava aquele seu neto espirituoso e nascido com a estrela da liderança e da voz ativa.

Apesar de ser uma criança arteira, era bastante esperto e era bom aluno.

Naquele dia chuvoso, nada para fazer, o grupo das referidas crianças se reunia na varanda da casa de Diogo e reclamavam do tempo, que os impedia de jogar bola.

Até que entraram no assunto do sobrenatural e começaram a contar e falar sobre “causos” que conheciam e q lhes haviam contado.

Diogo começou a falar sobre o “casarão abandonado da rua de baixo “.

 Dando aquela entonação macabra a voz, pos-se a narrar…

“…Diziam q o tal casarão, pertencera a uma abastada e antiga família de Barões. Tinham muitos escravos, fazendas, mas diziam que o homem ficou rico por ter feito um pacto com o “coisa ruim”.

De tempos em tempos, ele dava um grande baile no casarão e lá faziam coisas ruins, missas negras, sacrifícios humanos, animais e até surubas!”

Marquinhos o menor dos meninos perguntou: ” O que é suruba?”

E os garotos caíram na gargalhada.

Diogo então continuando o relato, disse que “por vezes via-se alguém na janela do casarão.

Muita gente jurava que já havia visto inclusive sua avó!

Mas era uma aparição rápida.

Assim como aparecia, sumia…”

” Um dia irei àquele casarão “pra ver qual é”!!” Disse Diogo.

Coisa que ninguém se atrevia a fazer.

Faziam até questão de nem passar na calçada.

Estava lá há séculos, intacto com seus grandes portões cerrados e enferrujados.

Os dias então passaram-se e após mais uma traquinagem da turma e das sovas posteriormente  levadas , Diogo como sempre sumiu para não apanhar.

A mãe e a avó gritavam do portão:

” Deixa…galinha de casa a gente não corre atrás! Ele vai ver quando voltar…”

Enquanto não podia voltar para casa Diogo ficou vagando e foi parar na rua de baixo.

 Só que deu o azar de ter sido visto por seu inimigo do outro grupo de garotos.

Se o pegassem iria tomar muita porrada.

Diogo correu muito.

E foi parar nos muros do Casarão.

Conseguiu pular o muro, era muito ágil e ficou escondido dos meninos. Que o procuravam feito loucos.

Passado um tempo e certificando-se do afastamento dos garotos, Diogo resolveu explorar o local…

” Já que estava ali…” Pensou.

Era um imenso jardim, porém muito mato o tomava.

Tinha até um chafariz vazio, daqueles com um menininho pelado mijando.

Subiu as escadas de mármore escurecido e esverdeado pelo tempo e entrou na varanda…

Na grande porta de entrada de madeira havia uma enorme e pesada aldrava (Argola móvel feita de metal presa a grandes portas usadas antigamente para chamar quem estava dentro de casa.) que logicamente Diogo fez questão de bater fazendo um som alto:

“TUM TUM TUM” …

Forçou a porta e a mesma estranhamente não ofereceu resistência. Abriu-se rangendo bastante.

Diogo então adentrou num imenso salão empoeirado, cheio de teias de aranha, com móveis antigos, alguns cobertos.

 Quadros de pessoas com vestes antigas os encarava…

Um piano empoeirado jazia perto de uma grande janela e junto a mesma, havia um senhor bem idoso sentado numa velha poltrona.

Este senhor apresentava vestes antigas …

Olhou para Diogo e o cumprimentou com um gesto de cabeça…

” Seja bem vindo meu rapaz , você já era esperado!” Disse o velho com sua voz cansada.

Diogo respondeu: ” Eu? Esperado? O senhor me conhece? “

O velho apenas o olhava curioso e respondeu:

” Há séculos sou o guardião deste portal criança!

Sim…este casarão não passa de um disfarce, de uma fachada …

É um portal e você já deve imaginar para onde.

Mas … meu tempo aqui felizmente acabou … “

O velho levantou-se e sorrindo maliciosamente com seus dentes podres, encarava Diogo e ia cambaleando com dificuldade, porém rapidamente em direção a ele.

Este, já assustado, tentou correr,

mas suas pernas pareciam pesadas…

O menino então perdeu os sentidos …

Já fazia um mês que Diogo havia desaparecido.

A mãe e a sua avó estavam inconsoláveis e seu irmão muito triste.

A polícia já havia sido acionada e já investigava e cartazes com a foto do ” MENINO DESAPARECIDO “, já encontravam-se por toda parte do bairro e adjacências.

Na rua estavam todos tristes, principalmente os amigos de Diogo. Estes, não mais se reuniam para brincar na rua.

Acabaram-se as peraltices…

Ficavam em casa. Os pais estavam com medo.

A vida então continuou …

E o casarão abandonado da rua de baixo, lá permanecia, velho e imponente, com seu mais novo guardião que por vezes aparecia para alguém na janela…